Jon Krakauer (No Ar Rarefeito e Na Natureza selvagem) reuniu neste livro onze contos sobre o relacionamento do homem consigo mesmo e com um dos maiores ícones da natureza, a montanha.
São histórias que se (re)lêem numa sentada só. Krakauer tem o dom de narrar com uma clareza extraordinária, momentos inusitados da vida de personagens míticos e episódios clássicos da história da aventura do século XX. E aproveita o formato rápido e sintético do conto, para discorrer, breve e analiticamente, sobre o porquê da atração do ser humano por situações limites de risco e ousadia.
Figuras como o mestre da escalada solo, John Gill, e os farrentos e brigões irmãos Burgess, são dois exemplos de como aproveitar a experiência pessoal de alguns célebres alpinistas para filosofar sobre o comportamento desses "heróis" desregrados, que atingiram os seus "everests" pessoais.
Krakauer relata com emoção e maestria, logo no primeiro conto, a sua investida frustrada na face norte do Eiger, uma das quatro paredes verticais mais difíceis da Europa ocidental. Analisa também, - leitura não recomendada para claustrofóbicos - a terrível convivência entre companheiros de aventura que ficam confinados dentro de minúsculas barracas, quando uma tempestade de neve desaba sobre o acampamento. Interessante é ler frases como: "barracas com o interior rosa ou lilás amenizam o stress causado pelo confinamento". Ou ainda, "praticamente as únicas pessoas que escalam gelo são um punhado de desajustados pirados".
O livro segue com estórias mirabolantes sobre os loucos pilotos de teco-teco na região do monte McKinley (Alaska), canionísmo solitário, mortes no K2, debates sobre altitudes de montanhas e a perigosa escalada do Polegar do Diabo, quando Krakauer era um garoto de apenas 23 anos.
Jon Krakauer, em Sobre Homens e Montanhas, não teve pretensão alguma de fazer um livro de referência para amantes de montanhas e lugares selvagens. Apenas quis presentear o leitor comum com cenas de um realismo quase fantástico. É nítido, em cada um dos contos, o seu tom de amor à natureza intocada. Seu prazer foi tocar em assuntos que sempre o interessaram. Porém, como exímio pesquisador, ótimo jornalista e alpinista apaixonado, Krakauer conseguiu com citações, referências e dados fundamentais do mundo "aventuresco", fazer um livro pilar para o que poderá fazer parte, no futuro, de uma "história da vida cotidiana e do imaginário" do mundo das rochas e dos gelos.
"Sobre Homens e Montanhas" não se trata de mais uma das fascinantes aventuras dramáticas relatadas pelo escritor e montanhista apaixonado Jon Krakauer, mas de uma coleção delas. O livro é uma coletânea de artigos publicados pelo autor em revistas especializadas no gênero, como a "Outside" - a mesma que o levou a escalar o Everest no episódio trágico que culminaria em seu livro mais famoso (No Ar Rarefeito). Todos os elementos essenciais de seus livros podem ser encontrados em abundância nas histórias aqui relatadas. Fascínio, aventura, obsessão e tragédia parecem ser indissociáveis do ato de escalar montanhas. O próprio Krakauer a certa altura se pergunta sobre o que leva alguém a se aventurar por alguns dos lugares mais inóspitos do mundo. A resposta é difícil, reconhece o autor, mas a julgar pelo fascínio que seus relatos exercem nos leitores... algum motivo há.
André Fagundes - CE, 17/10/2000
É um ótimo livro para quem quer se aventurar sentado seguramente em um sofá, ou se inspirar para vestir a mochila nas costas e trotar algum canto pouco lembrado do planeta. Um livro que se lê em qualquer ordem e aberto em qualquer parte. Livre e criativo, marcas típicas da vida nômade e errante do maior autor best-seller de aventura de todos os tempos.